sábado, 23 de outubro de 2010

O cotidiano peculiar das vilas

Qual é a primeira imagem que vem a sua cabeça quando você pensa em uma vila? Meninos jogando bola no pátio e fazendo bagunça, mulheres lavando roupa na frente da casa, homens conversando no portão e reclamando do último jogo de futebol? Não importa que imagem você visualizou, o cotidiano nas vilas é cheio de peculiaridades. A proximidade entre vizinhos ora os transforma em uma grande família ora os transforma em verdadeiros adversários. Nestes casos, a imagem visualizada agora há pouco muda rapidamente e o lugar tranquilo pode se transformar no cenário de um crime de uma hora para outra. Embora ocorra de forma velada, há discussão, fofoca e desentendimento nas vilas. "Aqui o que você fizer o vizinho sabe. Parece que eles ficam ouvindo através da parede", relata a dona de casa Célia Maria Menezes Santana, 44, que mudou-se para uma vila em 2000, quando o marido se separou e vendeu a única casa que tinham. De acordo com dados dodepartamento de Georreferenciamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Natal tem, pelo menos, 136 vilas, O Alecrim, na Zona Leste de Natal, é o bairro que tem mais vilas. São 42. Sozinho, o Alecrim concentra 30,8% das vilas de toda a cidade. A maioria tem o sobrenome de família, como por exemplo, Vila Gomes, dos Canindés, Barros, Medeiros, Dantas. O segundo bairro com o maior número de vilas é Igapó, na Zona Norte. O bairro tem 17 vilas, o que corresponde a 12,5% do total. Em seguida, vem o bairro das Quintas, com 11. O quarto bairro natalense com o maior número de vilas é Dix Sept Rosado. Tem dez. Os outros têm menos de dez vilas cada. O levantamento realizado pelo departamento de Georreferenciamento da Semurb revelou que as vilas não estão restritas aos bairros populares. Pelo contrário, algumas estão presentes em bairros onde predominam pessoas de classe média e alta. Este é o caso de Lagoa Nova e Lagoa Seca (nove vilas), Candelária (uma vila) e Tirol (duas vilas). Mas como é morar numa vila? Para entender que regras de convivência regem as vilas, a equipe de reportagem foi a campo e procurou quem mais entende do assunto: os moradores. A primeira impressão é que o número atual de vilas é muito maior que o registrado pela secretaria. Só na Avenida Apucarana, no Conjunto Santarém, Potengi, Zona Norte de Natal, a equipe visitou três vilas. A dona de casa Maria Lúcia Fernandes, 26, mora numa delas desde que casou. Natural de Lajes, no interior do Rio Grande do Norte, mudou-se com o marido e o filho para Natal em 2006. Primeiro, foram para uma vila no bairro Vale Dourado. Depois, para outra em Igapó. Em seguida, mudou- se novamente. Desde 2008, a família mora na Vila Parque das Mangueiras. Foi no Parque das Mangueiras que a família aumentou. Há pouco mais sete meses, nasceu a filha caçula. Apesar de a família ter aumentado, Maria não pretende se mudar para uma casa maior nem deixar a vila tão cedo. "Gosto de morar aqui".

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