terça-feira, 13 de março de 2012

A cidade e seu anti-herói

Yuno Silva - repórter

O romance "Cidade dos Reis" é um livro híbrido, onde ficção se entrelaça com passagens históricas. Alicerçado em elementos épicos, ironia refinada e uma constante analogia entre o panorama nacional e o cenário local da província, o livro do jornalista e escritor Carlos de Souza faz um passeio pelos fatos mais relevantes da recente história brasileira sob o olhar do anti-herói Jonas Camarão, personagem contraditório e inversamente proporcional ao ancestral Felipe Camarão.
Elisa ElsieCarlos de Souza viaja pela vida da província com seu personagem Jonas Camarão, um trabalhador rural que virou empresário 
Carlos de Souza viaja pela vida da província com seu personagem Jonas Camarão, um trabalhador rural que virou empresário

Porém, vale destacar que a grande personagem da obra é a própria cidade de Natal, desfigurada (em todos os sentidos) ao longo do século 20 como uma massa amorfa insípida e inodora. Ou seja, é uma crítica - por vezes sutil, por vezes ferina - que carece ser lida com um distanciamento estratégico para melhor compreensão das mensagens contidas nas entrelinhas.

Editado com apoio da Secretaria Extraordinária de Cultura / Fundação José Augusto, o título sai pela Coleção Cultura Potiguar e será lançado nesta quarta-feira (14), às 18h, durante evento alusivo ao Dia Nacional da Poesia no Palácio Potengi / Pinacoteca do Estado. O preço de capa está fixado em R$ 20 e todo o valor arrecadado no dia do lançamento será doado ao Hospital Infantil Varela Santiago - ao autor, como dividendos, coube cota de exemplares da tiragem inicial de 500 unidades.

A versão final de "Cidade dos Reis" está pronta desde 2003, mas antes disso Carlão chegou a reescrever pelo menos umas quatro vezes durante cinco anos. "Vinha lutando com o texto, que foi modificado ao sabor das críticas e sugestões absorvidas a partir de observações de leitores da pesada que 'não alisam', como Adriano e Alex de Souza", diverte-se o autor.

"No primeiro tratamento", lembrou o jornalista, "o cara (Jonas Camarão) era bonzinho demais! Muito 'água com açúcar'. Aí deixei ele mais mal, inescrupuloso e corrupto."

Seguindo a narrativa cronológica proposta pelo autor, Jonas começa sua trajetória como um trabalhador humilde da roça e se torna um empresário "sempre pronto a sacrificar os mais básicos valores pelo bem estar financeiro". Na medida que o tempo passa, ele vai se enrolando e "se tora!", adianta Carlão de Souza.

Como bom devorador de livros e colunista de literatura desta TRIBUNA DO NORTE, o jornalista enxerta várias citações literárias nas 272 páginas do livro que funcionam como homenagens. "Cidade dos reis" também suscita a reflexão dos leitores quanto à postura diante da beleza de Natal, "uma cidade linda e maltratada". Os cominhos de Jonas Camarão também topam com a trajetória de personalidades políticas conhecidas do grande público.

Para construir o romance, Souza realizou pesquisas e buscou referências para estreitar os laços afetivos e proporcionar maior identificação com o público. "Claro que algumas passagens misturam fatos reais com pura ficção, mas nada é por acaso. Bom exemplo dessa licença literária é o caso da Praia dos Artistas: uma das versões da história diz que o nome tem a ver com a gravação do filme 'Jesuíno Brilhante' (de Willian Cobbett), mas, para contextualizar 'Cidade dos Reis' digo que foi o filme de Augusto Ribeiro Júnior ('Boi de Prata'). Algumas pessoas que já leram vieram me corrigir, mas é proposital mesmo", explica.

No mesmo dia (quarta-feira, 14), após o lançamento do livro de Carlão, a programação que comemora o Dia Nacional da Poesia será encerrada por show gratuito de Jorge Mautner e Nelson Jacobina.

TRECHO DO LIVRO

"(...) De vez em quando pegava um táxi e convidava o compadre Ciço para dar uma voltinha pela cidade. Passava primeiro na Ribeira para olhar os antigos prédios que começavam a se deteriorar ou ser substituídos por construções modernosas. Que povo sem memória, meu Deus. Depois ia até a Praia do Meio, que agora era chamada de Praia dos Artistas (por causa das filmagens de Boi de Prata...). Ia até Areia Preta e depois voltava até o Forte dos Reis Magos para olhar a Redinha do outro lado. Como tudo mudara! novas ruas eram abertas, pavimentadas, asfaltadas. "

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