
Atribuem-se a João Teixeira de Faria,
nome real de João de Deus, feitos como fazer cegos enxergarem, reduzir
tumores e conseguir que paraplégicos voltem a andar. Uma de suas
façanhas inegáveis é que ele transformou a pequena cidade de Abadiânia,
com 15 mil habitantes, em polo turístico internacional.
Semanalmente, milhares de pessoas dos
mais diversos países gastam pelo menos U$ 2 mil para chegar ao
município, distante 117 km de Brasília, em busca da cura espiritual.
Seja por meio da água fluidificada, do remédio feito à base de
passiflora ou pelas cirurgias visíveis (com pinças gigantes, tesouras e
facas de cozinha) e invisíveis.
Desde que começou o tratamento
tradicional, Lula e João de Deus se encontraram ao menos três vezes em
São Paulo. Porém, ninguém fala abertamente sobre os vínculos entre os
dois. “Lula é um bom filho. Um menino que começou lá de baixo, fez uma
história e hoje você vê os brasileiros sorrindo”, elogia João de Deus,
como se traçasse um paralelo com a própria trajetória.
Nascido no vilarejo de Cachoeira da
Fumaça, em Goiás, João era o mais novo de seis filhos de uma família
simples. Com a mediunidade, rodou o mundo e atendeu um incalculável
número de pessoas. Essa lembrança é interrompida com mais uma pergunta
sobre o paciente.
“Quem trata do Lula é o coração de todos
os brasileiros, que estão orando por ele. Aquele homem se dedicou até
na hora que a mãe dele estava no caixão ao povo brasileiro. Se desse o
contrário, o Brasil e o mundo inteiro estavam em luto”, diz, prevendo o
sucesso do tratamento do ex-presidente – sem especificar se o espiritual
ou o tradicional.
Em um dos únicos cômodos refrigerados na
Casa Dom Inácio de Loyola (onde o médium descansa entre os trabalhos da
manhã e da tarde) há uma foto autografada de Lula com a faixa
presidencial, ao lado de dona Marisa.
O porta-retrato tem destaque ao lado das
outras figuras políticas que ilustram a sala. Entre eles, Nelson Jobim,
que foi ministro da Defesa, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o
governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO). Todos pacientes? “Não
tenho pacientes. Tenho amigos”, responde o médium.
Política
Em Abadiânia, não há uma eleição sem que
o apoio de João de Deus seja disputadíssimo. “Não sou um homem
político. Meu voto é orar”. Ele ainda mostra títulos, diplomas e
certificados, que garante não lhe renderem qualquer vaidade.
Sobre a medicina, ele diz que tem o
respeito dos colegas, inclusive dos médicos de Lula, e que os visitantes
da casa são orientados a permanecer com o tratamento tradicional. “Os
médicos têm uma missão de curar também e estudaram para isso”, disse.
Ponto. Prefere mudar de assunto.
O humor do médium muda tanto quanto as
entidades que o incorporam. Alguns dizem sete, outros, 30. Falar sobre o
paciente ilustre e sobre as críticas às atividades da casa não lhe
agrada, e ele segue respondendo sobre a certeza da missão. “Meu trabalho
é dormir. Não curo ninguém. Quem cura é Deus”, diz, logo depois de
comentar que não dormia há 36 horas.
A triagem dos pacientes é feita pela
manhã. Em minutos, ele prescreve o tratamento. As operações visíveis não
duraram mais que cinco minutos. Quem não pode se deslocar até Abadiânia
manda fotos ou peças de roupa por intermediários. As curas de João,
garantem os funcionários da casa, podem ser sentidas à distância.
Fonte: Estadão
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