quinta-feira, 14 de abril de 2011

FMI alerta que crescimento do crédito é risco para a inflação


Washington - A aceleração do crescimento do crédito em países emergentes, como o Brasil, aumenta a vulnerabilidade e o risco de superaquecimento na economia, diz um relatório divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Segundo o último Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global (Global Financial Stability Report), lançado em Washington, de 2007 a 2010 os empréstimos bancários em economias emergentes, especialmente na América Latina e na Ásia, cresceram em um ritmo mais forte do que nos cinco anos anteriores à crise financeira mundial.

“Bancos maiores, especialmente bancos públicos na China e no Brasil, foram os principais responsáveis pelo forte aumento no crédito”, diz o documento. De acordo com o FMI, os principais bancos no Brasil e na China expandiram seus balanços patrimoniais em mais de 100% no período de 2007 a 2010, “atingindo tamanho comparável ao de grandes bancos nos Estados Unidos e na Europa”.

O crescimento acelerado do crédito, diz o relatório, trouxe consigo um aumento da vulnerabilidade dos bancos e dos riscos de deterioração na qualidade do crédito. Como facilita o consumo e, assim, o risco de aumento da inflação, o crescimento acelerado do crédito tem sido uma preocupação do governo brasileiro.

Uma série de medidas foram adotadas no Brasil desde o ano passado na tentativa de conter esse crescimento. Apesar dos esforços, dados do próprio Banco Central indicam que o crédito continua crescendo no país.

O FMI volta a alertar para as pressões inflacionárias em países emergentes que, como o Brasil, registraram crescimento “vigoroso” após a crise mundial, ao contrário do rimo lento apresentado pelas economias avançadas.

Segundo o documento, esse bom desempenho veio acompanhado de maiores entradas de investimentos em carteira que estão exercendo pressão sobre alguns mercados financeiros emergentes e podem contribuir para o surgimento de bolhas nos preços dos ativos e pressões inflacionárias.

Outro problema enfrentado pelos emergentes e também já citado em relatórios divulgados pelo FMI ao longo das duas últimas semanas é o grande fluxo de capitais para esses mercados verificado após a crise mundial. O relatório cita medidas adotadas pelo Brasil para tentar conter esse fluxo excessivo - que provoca a valorização do real frente ao dólar e acaba reduzindo a competitividade das exportações brasileiras.

“O Brasil foi um dos primeiros mercados emergentes a aumentar impostos sobre investimentos estrangeiros de renda fixa”, diz o documento, ao citar as medidas relacionadas ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Em uma tentativa de conter a entrada excessiva de capital estrangeiro, o governo brasileiro elevou duas vezes no ano passado, para 6%, o IOF sobre aplicações de estrangeiros no mercado de renda fixa.

O Fundo já havia observado, porém, em relatório divulgado na semana passada, que as medidas adotadas pelo Brasil não tiveram efeito de longo prazo sobre a taxa de câmbio e que o real permanece “sobrevalorizado”.

O novo relatório é divulgado às vésperas da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial, que começa amanhã, em Washington, e terá a presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

De acordo com o FMI, os ritmos distintos na recuperação econômica pós-crise, mais vigorosa nos países emergentes e ainda lenta nas economias avançadas, trazem desafios igualmente distintos para os países.

Se os emergentes têm de lidar com desafios derivados da forte demanda interna, rápido crescimento do crédito e grande fluxo de capitais, nas economias avançadas os principais problemas são o alto nível de dívida dos governos e a saúde ainda frágil de instituições financeiras.

O FMI também alerta para riscos geopolíticos que podem “colocar em perigo as perspectivas econômicas e financeiras”. Entre esses fatores estão altas bruscas nos preços do petróleo, em meio a temores de interrupção do fornecimento no Oriente Médio e no norte da África - onde diversos países produtores enfrentam crises internas e revoltas populares.

Coordenador do IPEA não vê riscos

RIO - O coordenador do grupo de análises e previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg, afirma que o mercado financeiro está fazendo terrorismo com a possibilidade de estouro da inflação. Segundo ele, não há chances de hiperinflação no Brasil e a estratégia alarmista é movida pelo temor em relação à nova agenda socioeconômica do governo Dilma Rousseff.

O Ipea prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique entre 5% e 6% em 2011, acima do centro da meta (4,5%), mas dentro do teto estabelecido pelo governo (6,5%). Para o Ipea, o governo deve focar agora na elevação dos investimentos. O economista diz que não se deve confundir elevação do nível de preço com inflação. Para ele, está havendo uma mudança de preço relativa no Brasil, sem aumentos generalizados.

Messenberg afirma que há um efeito transitório da inflação causada pela valorização do real sobre o dólar e pela relação entre a inflação em moeda nacional e em moeda estrangeira. Segundo ele, há uma contaminação da inflação em moeda estrangeira sobre a moeda nacional. O economista diz não haver chances de hiperinflação num cenário de apreciação do real.

“Vamos ter que conviver alguns meses com uma taxa de inflação mais salgada”, diz. “Não vejo desarranjo da política econômica, ou improvisos. Estamos muito bem”. Segundo ele, nunca houve uma política monetária tão boa para o Brasil e prova disso são os recentes relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da agência de classificação de risco Fitch, com avaliações positivas sobre o País.

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