segunda-feira, 11 de abril de 2011

“Não existe meia entrada em teatro”, diz Carlos Konrath

A fase estudantil e profissional se entrelaçam na vida do empresário Carlos Konrath. Ainda como presidente do grêmio estudantil, quando cursava o ensino médio em Porto Alegre, ele buscou uma empresa produtora de eventos chamada Opus. Na época procurava “movimentar” o grêmio com festas. O que ele não imaginava é que o contato do estudante com a Opus ganharia grandes contornos e ele, depois daquele primeiro contato, não mais deixaria a Opus. Pelo contrário, ingressou como funcionário e anos mais tarde se tornou sócio da empresa, que hoje se destaca nacionalmente por ser administradora de teatros instalados em shopping center. Atualmente, são três teatros que estão sendo operados, mas outros três já estão em construção. Aliás, há quatro anos a Opus marcava a sua trajetória e a do próprio segmento de comércio em centros comerciais do país ao começar a operar o primeiro teatro dentro de um shopping. De precursora a disseminadora do know how. Além dos teatros que opera e dos que estão sendo construídos, a empresa sediada em Porto Alegre também está dando consultorias a vários empresários de outros países. Carlos Konrath se mostra um empolgado com o trabalho e mais ainda com a disseminação da cultura. Sobre o Teatro Riachuelo, o mais recente empreendimento a ser administrado pela Opus, o empresário aponta que essa casa de espetáculo está a altura de “qualquer cidade do mundo”. Para ele, a partir do Teatro Riachuelo o Rio Grande do Norte entrará no circuito das grandes apresentações e com ele o Nordeste agrega porque coloca a região como destino de shows internacionais.

“Dificilmente uma turnê com Gaiola das Loucas, com Miguel Falabela, chegaria no Nordeste. Esse um terço a mais que Natal passa a fazer parte do processo, considerando Recife e Fortaleza, é o que fará a grande diferença para que Natal possa entrar no grande roteiro cultu-ral”, diz o diretor da Opus. O entrevistado de hoje do 3 por 4 é um empresário simpático e de boa explanação, um cidadão entusiasmado com a cultura, um homem que a partir da inquietação como presidente de um grêmio estudantil alçou a carreira de empresário com atuação no país. Com vocês, Carlos Konrath:

Instalar um teatro dentro de um shopping em Natal é ousar?

Diria que é pensar forte no futuro. É parabenizar muito o grupo Riachuelo, seu Nevaldo Rocha (fundador da Riachuelo), é um grande empreendedor, um homem de uma visão extraordinária. Digo que colocar um teatro desse porte com essas características técnicas, cenográficas, que todo espaço possui faria bem a qualquer cidade do mundo. Nova Iorque estaria de braços abertos para receber um teatro com esse perfil e essa tecnologia. Então é o que se teve oportunidade de construir aqui em Natal. É pensar no futuro e pensar numa cidade que tem um futuro maravilhoso.

Em Natal já havia o Teatro Alberto Maranhão. Um teatro concorre com o outro?

Eles se somam sob todo os olhares. É assim em qualquer segmento, há uma soma. O Alberto Maranhão foi construído há 106 anos. O Riachuelo chega um século depois. Naturalmente trazendo as remessas que o mundo traz conforme evolui. Mas temos aí algumas características que permanecem as mesmas, como gerar cultura. Há 100 anos o objetivo de construir um teatro era gerar através da arte o desenvolvimento cultural para comunidade. É nisso que o Teatro Riachuelo se soma ao Teatro Alberto Maranhão e se soma ao Rio Grande do Norte. Nosso objetivo é gerar entretenimento, cultura, novas oportunidades, trocas de experiência.

Até o momento o Teatro Riachuelo apresentou apenas shows musicais. Onde estão as peças teatrais?

Essa é uma interpretação correta sob o ponto de vista de quem está na platéia.  Para quem está no backstage não funciona bem assim. O artista, a música, ela trabalha com muito mais flexibilidade, é muito mais tranqüilo nós ligarmos para um músico e agendar uma temporada para daqui a 45 ou 60 dias. A peça de teatro demanda de um pouco mais de infraestrutura, demanda de mais produção. Já estamos recebendo alguns espetáculos e nesse circuito a dança será um próximo passo. Digamos que cada segmento tem um tempo próprio para amadurecer, entrar no roteiro e se fazer chegar aqui em Natal. Tenho certeza que se nós fizermos daqui a um ano uma pesquisa com relação aos espetáculos que vinham ao Nordeste, não só ao Rio Grande do Norte, uma proporção de música, teatro, dança, música erudita, vamos perceber que Natal passa a receber um volume muito maior e vai contribuir para toda essa região também entrar nas grandes turnês. Dificilmente uma turnê com Gaiola das Loucas, com Miguel Falabela, chegaria no Nordeste. Esse um terço a mais que Natal passa a fazer parte do processo, considerando Recife e Fortaleza, é o que fará a grande diferença para que Natal possa entrar no grande roteiro cultural.

O Teatro Richauelo vem registrando um bom público. Isso surpreende a Opus?

Nos deixa felizes porque apostamos que o mercado reagiria dessa forma. Chancela a aposta que fizemos no Rio Grande do Norte estrategicamente. O que a gente precisa agora, já imediatamente é sensibilizar a comunidade, principalmente os órgãos públicos de que esse teatro é muito importante para essa cidade e muito importante para esse Estado. A gente tem enfrentado preocupações nesse sentido.

Que tipo de preocupação?

Existe uma cobrança de ISS que é em cima de espetáculos, sejam eles culturais ou de entretenimento, e isso não é bom.  Estamos com um processo muito adiantado e muito positivo de convencer os órgãos públicos, principalmente, a Prefeitura de Natal. Eu tenho certeza (a Prefeitura) será parceira nesse processo de transformar o que é um valor insignificante de arrecadação, mas que prejudica toda essa engrenagem, transformar o que é recolhido nas bilheterias em ações sociais. Destinar, por exemplo, em cada espetáculo um lote de ingressos que a gente possa doar para pessoas que efetivamente não tenham condições de ter acesso ao teatro, escolas públicas, ONGs, músicos. Muitas vezes você tem o sonho, mas não tem acesso. Se a gente tiver junto, compartilhar com o poder público e chancelar esse momento mágico que estamos vivendo aqui, tenho certeza como Natal dará mais um grande passo para o desenvolvimento da arte e da cultura.

Esse modelo que a Opus está propondo para Prefeitura do Natal já foi instalado em outra cidade?

Em São Paulo hoje não há cobrança de ISS sobre bilheteria. Espetáculos de teatro com peças brasileiras não cobram ISS. Naturalmente se vem um grande artista internacional vai recolher (ISS). Até porque ele (o grande artista internacional) tem estrutura para suportar esse custo. Os artistas que estão chegando aqui (no Teatro Riachuelo) não tem estrutura, não adianta, não dá, não encaixa, é muito caro. No momento (com a cobrança), o Poder Público não está contribuindo e ainda está tirando mais um pedaço. Estamos tendo boa vontade do poder público para resolver esse tema e a gente possa apostar na melhoria dos espetáculos que aqui chegam e a gente possa apostar na acessibilidade deles. Outro ponto importante, e aí não é específico de Natal, é a questão da meia entrada. Ela é uma conta que jamais vai fechar. É uma conta  matemática pura, da mais simples que a gente aprende na primeira série. Ou seja, não existe meia entrada. Existem alguns que são sacrificados a pagar o valor dobrado do ingresso. A grande maioria paga a meia entrada, mas, na verdade, ela paga sim o valor inteiro do ingresso. Não adianta qualquer ação, qualquer ato com relação a isso porque é matemática. Você não pode chegar em uma empresa aérea e pedir para ela vender a passagem com 50% do valor da passagem porque no teatro eu concedo 50%. Ela (a empresa aérea) não vai dar o desconto. Você vai chegar no restaurante e fazer isso? É mentira dizer que dão oportunidade a um maior número de pessoas de comprar ingresso pela metade. No Rio Grande do Sul conseguimos fazer uma lei que efetivamente gera resultado. Lá até duas apresentações não existe 50%, a partir de duas apresentações desde que não sejam em finais de semana tem 50%. Ou seja, um espetáculo em temporada de terça a domingo, 50% seria na terça, quarta e domingo. Não há como manipular o valor do ingresso. O espetáculo de um dia só não tem como dar 50%, porque ocorre exatamente de dobrar o valor. Se eu vou ter que dar 50%, dobra o valor. Estamos discutindo, mas há uma grande dificuldade de fazer as pessoas entenderem. É matemática, a cultura não pode ser olhada dessa forma. A cultura é encanto maior.

O Teatro Riachuelo tem cobrado ingressos superiores a R$ 150. É caro?

Veja bem, traduza isso para R$ 75, que é a meia entrada.

Qual o percentual de estudantes hoje nos espetáculos?

Hoje em torno de dois terços. É muito. Mais do que ser muito alto quando você prepara a vinda de um espetáculo não tem como dimensionar isso, você não sabe se vai vender 100% de ingressos com 50% de desconto, ou se vai vender 20% dos ingressos com desconto. Então (como não sabe como vai vender) o produtor dobra o valor do ingresso. Ele não tem bola de cristal, ele sabe o custo fixo operacional e observa que se tiver 100% de estudantes quebra se não dobrou o valor do ingresso.

Nesses mais de 30 anos a empresa adquiriu o know how de administrar teatro em shopping. Gerir um teatro em shopping é mais fácil ou mais difícil?

É muito delicado porque são n circunstâncias que enfrentamos no momento que comungamos do mesmo espaço. Temos estacionamento, gastronomia, segurança, horários temos ciclo de circunstância que efetivamente precisam combinar com o parceiro shopping e o parceiro lojista. Então são circunstâncias, tem espetáculo de garotada, as vezes as crianças chegam com 24 ou 48 horas de antecedência na porta do teatro. Como administrar isso?

Com três teatros, vocês descobriam o segredo da equação: lojista, shoppping, teatro?

É um novo nicho. Estamos sendo consultados no Brasil e fora, como no Peru, na Europa. Realmente é novo nicho e nova oportunidade. Até o Bourbon Country em Porto Alegre, que vai fazer quatro e meio, a partir desse episódio o Brasil se abriu para essa oportunidade (de teatro dentro de shopping center).

É mais fácil ser produtor de espetáculo ou administrador de teatro?

Ser produtor.

Por quê?

Porque quando termina o espetáculo você vai para casa dormir.

E como administrador o que faz quando termina o espetáculo?

Você vai ver como está a casa. Hoje temos um time de profissionais maravilhosos , graças a eles a engrenagem se move e eles souberam compreender que na nossa alma e essência está zelar e segurança. Zelar o patrimônio é obrigação nossa.

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