domingo, 29 de janeiro de 2012

Como chegamos aos cem anos


Rosa Lúcia Andrade - repórter

Até uns 20 anos atrás existia uma pirâmide no Brasil demonstrando a classificação de faixa etária, na qual o topo era onde estavam os idosos com 65 anos ou mais. Hoje, esta pirâmide dá lugar a um retângulo, com o alargamento de seu topo, mostrando um aumento da população idosa e com maior expectativa de vida; por outro lado, a base, onde fica o número de crianças por famílias, vem diminuindo. Será que caminhamos para um novo modelo populacional, seguindo os passos do Velho Mundo? Acredita-se que sim. Pois há linhas na medicina geriátrica que apontam uma inversão desta pirâmide daqui a 50 anos.

alex régisPensar a velhice deve fazer parte dos planos das pessoas quando ainda jovens para garantir não apenas segurança financeira, mas também boa saúde Pensar a velhice deve fazer parte dos planos das pessoas quando ainda jovens para garantir não apenas segurança financeira, mas também boa saúde
Para este quadro se configurar aqui no Brasil, é preciso que se abandone a cópia do modelo americano de vida, com má alimentação e sedentarismo desde a infância. Para se chegar longe tem que ter qualidade de vida não só depois dos 50 anos, mas desde o começo da longa jornada. As pessoas, desde criança, têm que comer melhor e não depender do fast food; têm que se mexer e não ser sedentário e têm que manter a mente em funcionamento, abandonando a comodidade das agendas dos aparelhos de celulares, por exemplo.

Os hábitos da modernidade terminam minando a vida das pessoas que deixam de memorizar datas e números; que deixam de se movimentar devido até mesmo à comodidade do controle remoto que muda os canais da TV, abre o portão e desliga o ar condicionado. E um dos agravantes para os nossos idosos - que seremos nós amanhã -, é uma cultura latina em que os filhos se sentem na obrigação de tomar conta da vida dos pais quando esses chegam à terceira idade, mesmo sendo pessoas ativas e em condições de administrar suas tarefas. Essa consciência tem que mudar primeiro nas pessoas que já estão envelhecendo. Elas precisam saber que são capazes e que a independência vale a pena.

E quando o idoso sofre alguma restrição, seja física ou alguma demência, como o mal de Alzheimer? A geriatria aconselha a família dar suporte, oferecer as condições para que o idoso viva seguro. Mas isso não quer dizer - e tem sido o menos indicado, salvo algumas exceções - que os pais tenham que morar na casa dos filhos. O apoio pode ser dado de longe, como providenciando um bom cuidador, um terapeuta e gerindo as contas dos pais ou ainda oferecendo a estrutura de um lar específico para receber essas pessoas.

As ressalvas são para os casos em que as famílias não tenham condições financeiras de tomar essas providências e qualquer arranjo familiar vale para que o idoso não fique desamparado.

O que a medicina tem como certo é que deve haver uma preparação física envolvendo atividades aeróbicas, como as caminhadas, e também muscular; ter uma boa alimentação; abandonar hábitos como fumar e beber em excesso; e realizar atividades que proporcionem prazer. Com esse gás pode-se chegar a cem anos driblando muitas doenças.

Avanço da medicina muda quadro

A mudança no formato da pirâmide etária pode ser observada pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. No Rio Grande do Norte, em 1991, os potiguares com mais de 60 anos representavam 8% da população total; o percentual subiu para 9% em 2000 e alcançou 9,8% no Censo de 2007. Em termos absolutos, o número de idosos passou de 199.122 (em 1991) para 296.517 (em 2007). Dados mais recentes da Secretaria de Saúde do Estado apontam uma população acima de 60 anos de 342.890, que corresponde a 10,82% da população geral do RN, de 3.168.027.

E tem mais: a expectativa de vida aumenta cada vez mais, sempre uma geração superando a anterior. Dessa forma, vai ser mais fácil você conhecer uma pessoa com cem anos de idade.

Atualmente ainda se chega a essa idade - ou bem perto dela - com alguma sequela de doença, geralmente cardiovascular, ou com demência como o mal de Alzheimer. Mas para as futuras gerações de idosos há como mudar esse prognóstico. Ainda dá tempo de adquirir hábitos saudáveis e poupar dinheiro para ter segurança financeira e viver independente do cuidado exclusivo dos filhos.

A geriatra Vanessa Giffoni, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e integrante do Programa de Diagnóstico e Tratamento da Doença de Alzheimer na Secretaria Municipal de Saúde, afirma que a evolução da medicina vem mudando o formato da pirâmide etária no Brasil.

Ainda nos anos 1970 começou a transição devido ao avanço de programas que visam melhorias na saúde, como implantação de saneamento básico e campanhas de vacinação. Dessa forma, passou-se a ter um controle das doenças infectocontagiosas que ainda matavam muito os adultos. Com essas melhorias as doenças que passaram a atingir adultos mais velhos foram as cardiovasculares que, quando não matavam deixavam sequelas e tinha-se uma população idosa com 65 anos ou mais, já bem debilitada. A partir da segunda metade dos anos 1980 e começo dos anos 1990 a medicina  avançou e novos tratamentos apareceram para o câncer, gerando uma expectativa de vida maior. Nesse mesmo período começaram as campanhas de prevenção às doenças cardiovasculares.

COMO É O IDOSO

A geriatra afirma que infelizmente não existe uma proporção favorável ao envelhecimento quanto à qualidade de vida. Muitas pessoas que estão conseguindo chegar mais longe em idade ainda não têm uma boa saúde e nem mesmo consciência de como fazer para atingir essa meta.

Se as famílias têm dificuldade de conviver com uma pessoa mais velha e dependente dentro de casa, isso pode mudar a partir do próprio idoso. Como? Com uma preparação antecipada para se viver essa fase da vida. Cada indivíduo tem que ter a consciência de que vai envelhecer e deve se preparar cuidando da saúde com boa alimentação, exercícios físicos que proporcionem força muscular e função motora para desenvolver atividades do dia a dia, dentro e fora de casa. A parte mental pode ser ativada com atividades intelectuais. Sendo assim, mesmo na velhice a pessoa pode cuidar de atividades domésticas simples, ir às compras e cuidar de questões financeiras sem depender dos filhos.

A vida de Luciano Gonçalves de Andrade, 78, pode ser considerada um bom exemplo de vida independente. Apesar de ter começado exercícios físicos como musculação já na terceira idade, antes fazia apenas caminhada,  mantém o treino diário e procura manter-se ocupado. "Lavo meu carro, todo dia agou as plantas da minha casa, saio pra banco", afirma, acrescentando que o único medo é o de ser assaltado e não de cair, como alguns em sua idade têm. Manter a mente ocupada pode ser uma boa receita.

Idosos devem priorizar atividades para musculatura

Os cuidados com o preparo físico são como uma poupança: deve-se começar no início da vida adulta para acumular bônus a serem usufruídos no futuro. Esta explicação simples demonstra que todos podem se preparar para uma velhice mais saudável.

O educador físico com especialização em fisiologia do exercício pela Usp, Márcio Mousinho, usa essa comparação para responder à pergunta de quando as pessoas devem começar a se preocupar com o futuro. Muitos já estão em débito e não são só os que já estão na badalada faixa 50 +, não. O ideal é que esses cuidados comecem aos 25 anos. A musculação é uma dessas atividades da poupança muscular.

"O preparo físico é comparado a uma poupança, pois sabemos que com a aposentadoria perdemos cerca de 1/3 do nosso salário. Assim é com a massa muscular", diz. É que dos 25 aos 50 anos o ser humano perde 10% de sua massa muscular, conhecido como sarcopenia; dos 50 aos 80 anos, 30%. "Então se a pessoa começa a trabalhar os músculos, a perda não será tão significativa", afirma. Embora, quanto aos músculos, exista uma possibilidade de regeneração, chamada de hipertrofia muscular, que é o aumento das fibras em resposta ao treino. Cerca de 300% em quatro meses de musculação. Sim, nos idosos.

E não são exercícios pesados e padronizados, não. Para cada indivíduo há um programa de exercícios. Segundo Márcio Mousinho é importante se fazer uma avaliação detalhada sobre o aluno, observando-se primeiramente se há risco cardíaco; depois o risco mecânico, como a existência de artrose ou outras doenças articulares. Se houver, nada de desistir da musculação; o treino é programado de acordo com as limitações de cada pessoa, sem muito peso, com menos repetições e de forma mais lenta.

Com a continuidade dos exercícios que trabalham a musculatura - a caminhada auxilia apenas na parte ergométrica - as melhorias são visíveis: aumenta a força, que diminui naturalmente com o envelhecimento e com isso as tarefas diárias de casa podem ser retomadas; aumenta a força pulmonar, evitando o cansaço de uma pequena caminhada, que restringia o convívio familiar; melhora a caminhada; aumenta a coordenação e o equilíbrio; além da flexibilidade entre outros pontos.

Aos 71 anos Terezinha de Jesus Freire Cavalcante, professora aposentada, surpreende as pessoas quando diz que fez cirurgia de ponte de safena no ano passado. Se mostrando disposta e realizando exercícios de musculação com desenvoltura, ela diz que sempre gostou de se cuidar. "Fazia dança e caminhada antes. Depois da cirurgia, o médico encaminhou para a musculação", diz satisfeita com o desempenho. Sempre animada, diz que já está preparando a fantasia para o carnaval, de cigana, que vai brincar na Noite Pauferrense na AABB ao lado do marido. Depois do treino, pegou três netos em casa e foi para a praia. 

POR QUE O IDOSO DEVE PREPARAR A MUSCULATURA

Aumenta a força e a massa muscular (reduzida com o envelhecimento)

Fortalece o coração

Melhora a circulação sanguínea

Aumenta a força pulmonar

Combate a osteoporose

Melhora a marcha (caminhada)

Reduz a gordura corporal

Aumenta o HDL (colesterol bom) e reduz o LDL (colesterol ruim)

Aumenta a sensibilidade à insulina

Auxilia na regulação da pressão arterial

Aumenta a coordenação motora

Aumenta da flexibilidade

Melhora a postura

Reduz e previne dores lombares

Melhora a mobilidade articular

Melhora a capacidade de trabalho

Melhora a capacidade de cumprir atividades da vida diária

ONDE ENCONTRAR ATIVIDADES FÍSICAS, DE LAZER  E INTELECTUAIS

Instituições como UFRN, Sesc, IFRN, além de Secretarias de Promoção Social como a Semtas (Municipal) mantêm programas voltados para a Terceira Idade promovendo lazer e cultura, além de atividades físicas específicas para essa faixa etária.

UFRN e IFRN - oferecem o "De Bem com a Vida", através da Caixa Assistencial Universitária do Rio Grande do Norte. Funciona no Centro de Convivência da UFRN, sala 20, Campus da UFRN.

Sesc - Entre as atividades físicas oferecidas à comunidade pelo Sesc há opções para idosos, como hidroginástica e natação.

Semtas - A Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social desenvolve os seguintes programas para os idosos de Natal: Api Conviver, Api Domiciliar, Disk Denúncia SOS Idoso e emissão da Carteira Interestadual da Pessoa Idosa. O Api Conviver conta com  60 grupos distribuídos nas quatro  zonas administrativas atendendo a 2.407 idosos. Todas as atividades são gratuitas. Para participar basta ter idade acima de 60 anos e ligar para 3232-4752 para saber qual o programa mais próximo da casa do idoso.

Facex - Proporcionar atividades educativas, de esporte, lazer e cultura a pessoas com mais de 40 anos, visando à melhoria da qualidade de vida, é o objetivo da Faculdade Aberta da melhor Idade.

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