Falta de educação ou agressão direta a saúde do próximo?
A fumaça liberada por cigarros contém
milhares de produtos químicos, tornado-se muito pior quando essa fumaça é
liberada em ambiente fechado. Portanto, a queima de cigarro produz uma
mistura complexa de poluentes, onde em sua grande maioria são potentes
agentes irritantes e agressores do sistema cardiorrespiratório.
Com relação às atividades fisiológicas, a fumaça do cigarro contém 9,5 moles% de dióxiodo de carbono (CO2) e 4,2 moles% de monóxido de carbono (CO). Deve ser lembrado, que o sangue é o responsável de carrear o oxigênio (O2) a
partir da captação pelas vias aéreas (nariz, boca) e esse oxigênio será
transportado pelo sangue através dos glóbulos vermelhos (hemácias),
pois elas contêm um elemento chamado hemoglobina que fixará essas
moléculas de oxigênio. Cada hemoglobina consegue transportar até 4
moléculas de O2 e esse transporte garante a quantidade ideal de O2 para as nossas células. Porém, deve ser lembrado que a hemoglobina tem uma afinidada 240 vezes maior pelo monóxido de carbono (CO) do que pelo oxigênio (O2), e que a presença aumentada de CO dificultaria a chegada de O2 para todas as células do nosso organismo.
Além disso, é bem estabelecido na literatura científica, que a nicotina é
um dos elementos mais abundante encontrado na fumaça do cigarro e que
durante o processo de fumar a sua concentração é de 7-8 % do conteúdo
total de fumaça emitido, podendo ser muito maior, se essa prática
acontecer em recintos fechados, em virtude do espaço onde acontecerão as
reações químicas e trocas gasosas, ser extremamente reduzido,
aumentando em larga escala a potência tóxica desse elemento. Pois,
existem diversos relatos de que a nicotina apresenta um efeito que
provoca irritação dos brônquios (estrutura pulmonar responsável pela
captação do O2 e troca com CO2), conhecida como broncoconstrição (contração exacerbada dos brônquios).
Devido à reação de todos esses elementos
químicos citados anteriormente que apresentamos uma grande dificuldade
de respirar quando estamos em ambientes fechados com fumaça de cigarro,
pois o oxigênio perde a vez para o CO, e isso causa o aumento da
velocidade de respiração e batimentos cardíacos, enquanto que a nicotina
promove a irritação do sistema respiratório, podendo provocar tosses e
sensação de asfixia devido à broncoconstrição.
No estudo de Smith e colaboradores
(2001), constataram que pessoas que nunca fumaram, mas que permaneceram
em um local semelhante ao ambiente de trabalho (escritório), e que
inalaram fumaça de cigarro durante um dia inteiro (8:00 as 16:30),
simulando um dia de jornada de trabalho, apresentaram todas as
alterações fisiológicas citadas anteriormente, especialmente a
broncoconstrição. O mais interessante nesse estudo é que os
pesquisadores eram funcionários de uma empresa de tabaco e mesmo assim
tiveram essa conclusão
Como destaque final, outro estudo
realizado na Croácia por Mlinaric e colaboradores (2011) verificaram a
incidência de doenças respiratórias (asma, rinite) em adolescentes que
inalavam fumaça de cigarro, mas nunca haviam fumado (fumantes passivos) e
relataram que esses jovens apresentavam mais incidência dessas doenças
que os próprios fumantes e alegaram esse fenômeno ao maior tempo de
exposição à fumaça.
Deste modo, deve ser destacado que fumar
em ambiente fechado não seria somente um gesto de desrespeito ao
convívio em comunidade, mas uma violenta agressão a saúde do indivíduo
que não é tabagista e de acordo com a ciência pode ser mais prejudicado
que o próprio fumante.
BIBLIOGRAFIA
Mello, PRB; Pinto, GR; Botelho, C. Influência do tabagismo na fertilidade, gestação e lactação.
J Pediatr (Rio J) 2001; 77 (4): 257-64.
Smith CJ, Bombick DW, Ryan BA, Morton
MJ, Doolittle DJ. Pulmonary Function in Nonsmokers Following Exposure to
Sidestream Cigarette Smoke. Toxicol Pathol. 2001 Mar-Apr;29(2):260-4.
Mlinaric A, Popovic Grle S, Nadalin S,
Skurla B, Munivrana H, Milosevic M. Passive smoking and respiratory
allergies in adolescents. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2011 Aug;15(8):973-7.
Davidson, J; Rafael Carrenho Batista, RC; Salviano, SAB. Efeitos cardiorrespiratórios imediatos do tabagismo. Pulmão RJ 2009;18(3):144-147.
Anderson Luiz B. da Silveira
Professor de Fisiologia do Exercício e Nutrição Esportiva – UFRRJ
Doutorando em Ciências Fisiológicas – SBFis/UFRRJ
Laboratório de Fisiologia e Desempenho Humano – DEFD/UFRRJ
Laboratório de Fisiologia e Farmacologia Cardiovascular – DCF/UFRRJ
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