Breandáin O'Shea - Deutsche Welle
Normalmente
um espaço ocupado por grandes nomes da música erudita, a sala de música
de câmara da Filarmônica de Berlim recebeu nesta semana o Straßenchor
(coro de rua) de Berlim, um grupo de canto formado por ex-moradores de
rua da cidade. A apresentação de Carmina Burana, de Carl Orff, teve casa
cheia.
O coro foi fundado em 2009 pelo pianista Stefan Schmidt e
desde então já se apresentou em diversos locais da Alemanha, além ser
presença frequente em programas de televisão.
Por que um bem-sucedido pianista decidiu montar um coro com moradores de rua de Berlim?
Stefan
Schmidt: Quinze anos atrás eu tive um problema no coração e não pude
tocar por alguns anos. Durante esse período eu refleti muito sobre a
minha vida e mudei muito. Então eu me mudei para Berlim e vi muitos
pessoas vivendo nas ruas, fazendo nada, e pensei que poderia fundar um
coro com essas pessoas.
Por que tipo de experiências passaram alguns dos membros do coro?
Bem,
há de tudo. Algumas pessoas são viciadas em crack ou são alcoólatras.
Outros tem sérios problemas psicológicos. Outros viveram a vida toda nas
ruas. Mas agora todos que estão no coro tem um apartamento. Alguns dos
membros trabalham normalmente, mas estão no coro porque queriam cantar
nesse coro.
Você se surpreendeu com o grande talento musical que você encontrou no coro?
Sim,
foi realmente surpreendente! Temos dois ou três que são pessoas de um
talento excepcional e eu espero poder ajudá-los a se aperfeiçoar nesse
caminho.
Como participar do coro mudou a vida de algum de seus integrantes?
Inicialmente,
muitos deles começaram a encontrar apartamentos e agora estão começando
a voltar a trabalhar. Muitos estão estudando ou aprendendo uma nova
profissão. Temos muitos jovens no coro que estão apenas começando suas
vidas, outros estão tentando recomeçar.
Quais foram os maiores desafios com os quais você foi confrontado pelas pessoas do coro?
Acredito
que o maior problema foi o álcool e as drogas. Não permitimos a ninguém
fazer uso de ambos antes dos ensaios e acho que isso ajudou muitos
deles a parar de vez e começar a amar o coro e a comunidade em torno do
coro. No começo, eles paravam [de usar álcool ou drogas] por duas horas,
mas muitos pararam em definitivo.
Foi difícil estabelecer disciplina no grupo?
No
início eles não estava acostumados com isso, mas agora há comunidade e
eles ajudam uns aos outros. Se alguém não está se concentrando, o grupo
todo reage. Às vezes (ri) é muito difícil fazer o grupo ficar em
silêncio.
Como o projeto é financiado?
É
muito difícil, pois não temos nenhum tipo de fundação. Recebemos
algumas doações e fazemos alguns concertos pagos. Isso nos ajuda a
sobreviver de um mês para o outro.
O
quão importante é para pessoas entrar em contato com arte e música com
as quais não estão familiarizadas? Isso pode mesmo ajudá-las?
Música
pode mudar muita coisa. No grupo eles aprendem a entrar em contato com
outras pessoas. Nas ruas eles estão sozinhos e tem que lutar pela
própria sobrevivência. No grupo eles conhecem esse novo sentimento de
fazer parte de um grupo. Acho que a maioria deles nunca teve essa
experiência. Isso o torna muito atentos às próprias emoções. Às vezes
eles podem começar a chorar de repente por causa desse sentimento. Acho
incrível o que a música proporciona. Ela aproxima e mantém as pessoas
juntas.
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