segunda-feira, 14 de março de 2011

Explosão em usina japonesa eleva temor de contaminação nuclear

Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo
A explosão ontem do edifício que abriga um dos reatores da usina atômica Fukushima Daiichi e um novo alerta de emergência numa segunda central do complexo elevaram o temor de um desastre nuclear no Japão, atingido no dia anterior por um dos mais violentos terremotos da história.
O número oficial de mortos pelo tsunami que se seguiu ao terremoto de sexta-feira subiu ontem para 1.800. A cifra de desaparecidos e desabrigados encontra-se ainda na casa dos milhares. Só na praia da cidade de Sendai, a mais afetada pela onda gigante que se seguiu ao tremor, cerca de 300 corpos foram encontrados.
As autoridades temem ainda pelo destino de 10 mil moradores da cidade portuária de Minamisanriku, com os quais todo o contato foi perdido (mais informações nesta página).
Especialistas de todo o mundo estão mobilizados para ajudar o Japão a evitar um desastre nuclear semelhante ao de Chernobyl, que causou a morte de 25 mil pessoas na Ucrânia sob dominação soviética, em 1986. Moradores da região onde está a usina atômica de Fukushima foram obrigados a abandonar suas casas. Cerca de 45 mil pessoas estão em abrigos emergenciais - 800 delas ainda estavam próximas da usina no momento em que houve a explosão do primeiro reator do complexo (mais informações na página A24).
Único país do mundo a sofrer os efeitos de um bombardeio nuclear, a ameaça de um novo incidente radioativo tem ampliado a tensão no Japão, país castigado pelo terremoto de 8,9 graus da escala Richter - o sétimo maior desde que os abalos sísmicos passaram a ser registrados - e o subsequente tsunami, que levantou paredes de água de até 10 metros de altura e devastou a costa da região nordeste do país.
O césio-137, isótopo radioativo que alimenta boa parte das usinas japonesas, pode contaminar vastas áreas por décadas, caso seja liberado na atmosfera.
O primeiro-ministro Naoto Kan, dirigiu-se ontem à população para pedir calma e prometeu tomar todas as providências para evitar que a catástrofe natural se aprofundasse com um acidente nuclear de grandes proporções.
O tremor de 8,9 graus na escala Richter afetou o suprimento de energia em Fukushima e comprometeu o bombeamento de água para o resfriamento dos reatores. O tsunami que se seguiu destruiu o gerador de segurança movido a diesel, que deveria continuar a funcionar mesmo na hipótese de total paralisação da planta.
Mesmo com o reator desligado, o material radioativo em seu interior precisa ser permanentemente resfriado com água, o que foi comprometido pelo duplo desastre enfrentado pelo Japão. Sem a realização desse processo, a pressão no interior do reator aumenta gradualmente, até que ele derrete e libera na atmosfera material radioativo. Antes da explosão, as autoridades disseram ter havido pequeno vazamento nuclear e reconheceram que existia a possibilidade de derretimento do reator.
Ao mesmo tempo em que lidava com a emergência nuclear, o governo deslocava soldados e equipes de resgate para o nordeste do país, a área mais atingida pelo tsunami, onde pessoas, cidades, casas, carros e barcos foram arrastados por ondas de até dez metros de altura. A água avançou centenas de metros sobre a terra e encobriu plantações, inundou aeroportos e fez cidades inteiras submergirem.
As operações de resgate eram dificultadas pelos danos sofridos pela infraestrutura de transporte nas regiões afetadas. Estradas próximas da área do tsunami estavam intransitáveis e as linhas de trem que ligam Tóquio à região nordeste do país não estavam operando.

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