domingo, 29 de maio de 2011

Casos de homicídios caem 23% em Natal

Maior parte das ocorrências, no entanto, continua envolvendo jovens da periferia da capital
Paulo de Sousa // jpaulosousa.rn@dabr.com.br

O número de homicídios cometidos em Natal caiu 23% no ano passado com relação a 2009. A constatação consta de estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos em Justiça e Cidadania (Ipejuc). O mesmo levantamento constatou que 61% desses crimes foram cometidos em apenas 10 bairros da capital, em sua maioria situados na periferia.

Ainda segundo esses dados, colhidos junto ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), 73,3% das vítimas são jovens entre 16 e 35 anos, sendo 91,4% deles homens. Em 87% dos casos foram usadas armas de fogo para concretizar o fato. Para um dos coordenadores do Ipejuc, o advogado e militante de direitos humanos Marcos Dionízio, apesar da pesquisa evidenciar um dado positivo, revela, por outro lado, uma faceta da realidade que não mudou. Segundo ele, a localização dos homicídios e faixa etária das vítimas evidencia como o jovem da periferia -desprovido de educação, esporte e lazer - acaba procurando uma "forma de crescer na vida" através criminalidade. "Não sabendo ele que essa ascensão social tem vida curta".

Bairros

Segundo os números do estudo do Ipejuc, durante o ano de 2010 foram registrados 303 homicídios em Natal. No ano anterior, foram 393. Alguns bairros de Natal apresentaram queda nesses registros. A mais acentuada se deu em Felipe Camarão (Zona Oeste), que passou de 41 casos, em 2009, para 20 no ano passado. O bairro do Planalto saiu de 21 para 9, e, no Potengi, (Zona Norte) os assassinatos passaram de 22 para 10 entre um ano e outro.

O bairro de Nossa Senhora da Apresentação, também na Zona Norte, é o que apresenta a maior quantidade de registros, com 39 crimes desse tipo no ano passado. Contudo, no ano anterior, houve 53 assassinatos no local. Ainda nessa região da cidade, Lagoa Azul teve 33 casos em 2010 contra 37 em 2009, e Pajuçara teve 21 e 31, respectivamente. Mãe Luíza também diminuiu os registros de casos, passando de 17 para 14, o mesmo ocorrendo em Igapó, que teve 11 registros no primeiro ano estudado e passoupara sete no seguinte.

Os únicos locais que sofreram um crescimento nos homicídios foram os bairros do Alecrim - com uma variação de cinco para 11 homicídios no ano seguinte - e as Quintas - com uma variação de 20 para 23. Esses 10 bairros, juntos, somaram 187 assassinatos 2010.

Esforço

Para Marcos Dionísio, essa queda nos registros se deve principalmente ao esforço feito pela Polícia Militar, a partir de março do ano passado, para intensificar o patrulhamento nas periferias, sobretudo nas zonas Norte e Oeste. Contudo, ele alerta que a redução nos assassinatos baseada simplesmente na repressão da polícia pode não ser permanente. "Podemos comemorar esses dados, mas com os pés no chão. Essa queda poderia ter sido bem mais acentuada se fosse acompanhada de políticas públicas, como o incentivo à educação, cultura e lazer nas periferias".

O advogado chama a atenção para o fato de a maioria dos homicídios ter ocorrido em 10 bairros da periferia da capital potiguar. Segundo ele, isso se justifica pelo fato de "a periferia de Natal ser marcada pela absoluta ausência de políticas voltadas para a segurança, saúde, educação, iluminação pública, regularização habitacional, entre outras".

Marcos Dionísio ressalta ainda que a grande parte dos homicídios é praticada com uso de armas de fogo. Para ele, são necessárias medidas mais eficazes no combate ao tráfico de armas. "Sabemos que a campanha do desarmamento serve para diminuir a violência interpessoal, na maioria das vezes entre cidadãos de bem. Mas ainda é muito fácil o acesso a armas no mercado ilegal. É preciso um esforço maior da polícia em identificar os mecanismos de acesso dos criminosos a esses instrumentos", defende.

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