segunda-feira, 30 de maio de 2011

Itinerários em extinção no RN

Cerca de 70 linhas intermunicipais já foram desativadas. Enquanto isso, DER calcula em 15 mil os motoristas ilegais
Sérgio Henrique Santos // sergiohenrique.rn@dabr.com.br

O transporte intermunicipal de passageiros está beirando o caos no Rio Grande do Norte: mais de 70 linhas de ônibus deixaram de operar nos últimos anos, três empresas fecharam as portas e outras realizaram "enxugamentos" em seus quadros de pessoal. Os dados são da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor). O principal fator apontado como responsável pela falta de qualidade no serviço e a crise no setor é a concorrência desleal desempenhada pelo transporte clandestino

A consequência dessa situação é que a quantidade de passageiros transportados pelo serviço legal tem diminuído a cada dia e, consequentemente, o número de pagantes também é reduzido, o que encarece a tarifa para quem paga a passagem. Na capital, também há "rodoviárias" de transporte clandestinos, como na região da Mangueira, no gancho de Igapó, nas imediações do Terminal Rodoviário em Cidade da Esperança, e em frente ao Posto Dudu, na BR 101, sentido Parnamirim.

Estimativas do Departamento de Estradas de Rodagens (DER) dão conta da existência de 15 mil motoristas que atuam irregularmente nas estradas do Rio Grande do Norte. Ao mesmo tempo, inúmeras cidades e povoados do Estado deixaram de ser atendidos por linhas regulares de ônibus, prejudicando milhares de passageiros e, principalmente, idosos e estudantes, que têm transporte gratuito ou com desconto.


Concorrência com informais levou ao fechamentos de 3 empresas do setor e ao enxugamento do quadro de outras. Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press
As empresas Oeste, que percorria cidades próximas a Mossoró, Queiroz e Melo, que fazia linhas no litoral Sul, e Unidos, de Ceará-Mirim, estão entre as que fecharam suas portas. "Muitas delas passaram por "enxugamentos" bastante representativos. Empresas que, por exemplo, operavam com 100 ônibus, hoje não dispõem de mais do que 40 em sua frota", exemplificou João Carlos Queiroz, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Intermunicipal (Setrans).

Os prejuízos são incontáveis. Várias empresas reduziram significativamente suas frotas, mais de 3 mil trabalhadores (motoristas, cobradores, mecânicos e pessoal administrativo) perderam seus empregos de carteira assinada e direitos garantidos. Os norte-rio-grandenses também são prejudicados. Quase metade da população ainda depende do transporte público por não ter outra alternativa. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual da população que usa automóveis ou motocicletas para se deslocar aumentou 47% nos últimos. Ainda assim, faltam mais opções seguras e confiáveis na Grande Natal, com itinerário e horário determinados.

A equação é simples: quanto mais ônibus circularem, melhor será a qualidade do serviço de transporte. Mas a lógica dessa matemática tem um complicador inversamente proporcional. Ao passo que é mais barato viajar em carros de lotação, também é menos seguro. Uma opção é ir de táxi, mas haveria uma dificuldade: eles não dão conta da demanda. Há quase 30 anos, Natal tem apenas 1.010 táxis para atender a seus 800 mil habitantes. A legislação prevê que deve haver um táxi para cada mil habitantes. Por isso, o número só crescerá quando a cidade ultrapassar a marca de 1 milhão de moradores.

O problema é que cidades bem menores não têm obedecido essa regra. Na Grande Natal, a maior parte das cidades tem uma quantidade desproporcional de veículos rodando como táxis, que deveriam rodar apenas nos limites do município onde são permissionários. Na prática, esse limite estabelecido por lei é totalmente desrespeitado e milhares de taxistas rodam, impunemente, transportando passageiros para além dos limites de seus municípios. "Isso se vê principalmente no fluxo para Natal, em flagrante desrespeito à lei, que determina que o transporte intermunicipal é de operação exclusiva das empresas de transporte legalmente constituídas para tal", revela Queiroz.

Nenhum comentário: