O primeiro gol ninguém esquece

O ex-goleiro Juca lembra o revés no jogo de estreia do estádio Machadão
Luan Xavier // luanxavier.rn@dabr.com.br

Certamente o amante do futebol potiguar sabe que o primeiro gol do estádio Machadão foi marcado por William, meia do ABC na década de 1970. Como o próprio jogador descreveu seu feito na época, William dominou no peito, tocou com calma, no canto, "e o goleiro ficou só na saudade". Mas, você sabe quem foi esse goleiro? Pois bem, João de Deus Souza (Juca), hoje com 59 anos, tinha tudo para não querer lembrar de jeito nenhum daquela tarde do dia 4 de junho de 1972. O arqueiro do América, adversário do Alvinegro naquele jogo de inauguração, porém, guarda ainda hoje, 39 anos depois, boas lembranças do dia em que sua vida mudou completamente.

"Ainda me lembro muito bem. Maeterlinck (hoje médico do América) levou o grupo um dia antes ao Machadão. Havia um pessoal lá trabalhando, pintando as linhas do campo e eles nos disse: 'hoje só tem esse pessoal aqui, mas amanhã isso aqui vai estar lotado e vocês vão ter que fazer o melhor'. E deu uma palestra lá pra nós e aquilo foi muitoimportante para a gente", lembra. Então com 20 anos, o jovem goleiro americano não conseguia conter a ansiedade. "Quem disse que a gente conseguia dormir depois disso?", diz.

Quase 40 anos depois Juca se vê aflito com uma questão que para alguns é difícil de entender: a "morte" do Machadão. "Eu tenho o Castelão como uma pessoa da minha família. É como se uma pessoa minha estivesse na UTI", diz. Questionado se teria condições de ver a demolição do estádio que ele viu nascer, Juca brinca: "Vai ter a Samu lá? Se tiver a Samu eu posso até ir". Emocionado ao falar sobre a queda do estádio, Juca mostra uma relíquia que carrega consigo todos esses anos, a edição de 7 de junho de 1972 do Diário de Natal, que traz as imagens dos principais lances da partida. "Isso aqui eu guardo com todo carinho".Nunca que eu vou me desfazer disso", salienta.

Reencontro
Hoje Juca é aposentado e está tentando viabilizar um trabalho de categorias de base próximo ao Centro de Treinamento do América, em Japecanga, onde mora. Mesmo beirando as seis décadas de vida o ex-goleiro, que ainda "bate uma pelada aqui e ali de vez em quando", foi ao CT de seu ex-clube a convite da reportagem de O Poti onde reencontrou amigos, como o técnico Francisco Diá e o superintendente Carlos Moura, e surpreendeu os treinadores de goleiros antes do início do treinamento. Devidamente trajado com calça de goleiro e camisa do América, Juca não deixou passar nenhuma das bolas alçadas contra a meta. Talvez se tivesse feito isso naquele 4 de junho, o homem que levou o primeiro gol do Machadão não tivesse tanta história para contar.